segunda-feira, 27 de maio de 2013

Jurema, um culto de herança, tradição e cultura

Os poderes atribuídos à jurema organizam uma religião típica do Nordeste brasileiro

Desde os primeiros tempos da colonização, vários cronistas e observadores falam sobre o desenvolvimento de rituais ligados à população indígena. Por meio de cantos, danças, infusões, cachimbos e dizeres sagrados, os índios se colocavam em contato com seus antepassados e com outros seres do plano espiritual. Logicamente, aos olhos dos colonizadores e dos jesuítas, tais práticas eram um grande empecilho à divulgação da fé cristã em terras brasileiras.

Nesse conjunto de manifestações, a jurema sagrada, jurema nordestina ou catimbó, aparece como uma religião indígena, mas também influenciada por elementos dos cultos cristãos e afro-brasileiros. Antes de tudo, a jurema é uma árvore da caatinga e do agreste que tem sua casca utilizada para a fabricação de uma bebida mágica que concede força, sabedoria e contato com seres do mundo espiritual. É dessa forma que o uso da árvore desencadeia a formulação de uma experiência religiosa com mesmo nome.

Ao longo do tempo, a Jurema incorporou uma série de influências que impedem a formulação de um padrão ritualístico mais extenso. Assim, definimos como praticantes da Jurema todos aqueles que se reúnem em terreiros ou casas para realizarem a ingestão da bebida feita a partir da árvore, empregando o uso de tabaco e buscando o contato com um mundo espiritual alcançado através do transe. No mais, observamos variações que abraçam desde os elementos da Umbanda até o Cristianismo Católico.

Nos cultos da Jurema temos a figura dos mestres que ocupam a função de líderes, responsáveis pela incorporação de espíritos que curam e aconselham os praticantes, mais conhecidos como “juremeiros”. Além de fornecedora de um elo com o chamado “reino dos encantados”, a jurema é considerada poderosa por ter, nos tempos bíblicos, escondido Jesus Cristo quando este fugia para o Egito. Ao entrar em contato com o pé de jurema, o Salvador teria lhe preenchido com poderes diversos.

A fabricação da bebida sagrada conta com uma mistura que leva cascas de jurema e uma espécie de vinho preparado com álcool, mel, gengibre, hortelã, cravo e canela. Segundo alguns pesquisadores, a ingestão oral desta mistura não provoca nenhum tipo de transformação em quem a ingere. Dessa forma, tudo indica que os procedimentos ritualísticos que envolvem a ingestão, são indispensáveis para que a fórmula preparada determine o estado de transe.

As duas entidades incorporadas em uma sessão de jurema são os mestres que já se foram e os caboclos. O reconhecimento dessas entidades acontece através da observação dos gestos e falas, que o incorporado assume assim que começa dar voz a um determinado ser do mundo espiritual. Nesse âmbito, o mundo dos espíritos construído pela jurema era formado por várias cidades, sendo que cada um deles tinha capacidade de atender uma espécie de pedido.

Cercada por uma série de instrumentos, a sessão de Jurema é sonoramente povoada pela execução da maraca (um chocalho indígena feito de cabaça) e o ilu (uma espécie de tambor). Sem um conteúdo fixo, a jurema oferece os seus ditos “segredos” de forma especial a cada um dos “enjuremados”. Dispostos em uma mesma roda, os participantes deste ritual pontuam mais uma das várias religiões que determinam a diversidade da cultura brasileira.

Por Rainer Sousa

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A Falsa Abolição da Escravatura

Neste 13 de Maio completam 125 anos da falsa abolição, dia ainda utilizado pela grande elite e seus meios de comunicação para enaltecer a “Princesa Isabel” e ainda pior, incutir no imaginário coletivo a pseudo-ideia de data mais importante para os negro e negras desse País. O movimento questiona até os dias de hoje como a historia é contada e deturpada principalmente nos livros didáticos.



Normalmente esse é o dia da “abolição da escravatura”, dia em que os escravos deixaram de ser tratados como “coisas”, mercadorias de propriedade de seus senhores pra tornarem-se “cidadãos”. Porém, cidadãos de uma sociedade que não estava e nem foi preparada para conceber os africanos e afro-brasileiros como tal. Diferentemente dos europeus, que foram trazidos para o Brasil com o aporte financeiro e institucional do Estado, numa medida explícita de "política de ações afirmativas" às avessas, pois os europeus receberam subsídios e incentivos por parte do governo brasileiro. Por outro lado, este mesmo governo relegou aos ex-escravizados a herança maldita de viver às margens de uma sociedade racista e excludente, sem moradia, terra para trabalhar, educação e condições mínimas para sobreviver, nem mesmo tiveram direito à indenização pelo tempo de trabalho forçado. Condições que permanecem vivas em nosso cotidiano. 


A escravidão foi e ainda é (pois não deixou de existir) o ato mais perverso, desumano e humilhante que a historia pode registrar, além de ser a maior fonte de lucratividade do capitalismo rendendo muitas riquezas para a elite brasileira a mesma que marginaliza e explora a força de trabalho, impulsionando o racismo com a ideologia hierárquica, dados estes que ocupam os índices do IBGE como a população que tem a maioria dos analfabetos, desempregados, em situação de risco, ocupam as cadeias, a que mais morre entre outras mazelas. 

Os anos se passaram, as relações sociais são recorrentes e dinâmicas e as situações de desigualdades e injustiças em relação aos grupos historicamente excluídos também se reconfiguram de acordo com as mudanças na sociedade. Entretanto, a historia é a mesma, ainda vive aqui um povo escravizado pelo sistema que não pagou e recusa-se pagar a divida moral, histórica, social, cultural e econômica, as cotas chegaram tarde e mesmo olhando o passado e o sofrimento desse povo ela é migalha perto do que toleraram e a abolição ainda é uma utopia.

escurecendoasideias.