terça-feira, 24 de setembro de 2013

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E DIREITOS HUMANOS.

As Águas de São Paulo é um movimento religioso e social mantido pelas comunidades tradicionais de matriz africana da cidade de São Paulo. O movimento tem como objetivo denunciar atos de preconceito e de vilipêndio a laicidade garantida na Constituição Federal, promoção da cultura de paz, liberdade religiosa e preservação das tradições africanas.


Minha fala na relação entre intolerância religiosa e Direitos Humanos. Nesse sentido, penso que minha abordagem levará em conta uma perspectiva mais ampla do problema da intolerância religiosa, porque esta não se dirige somente a outras formas de crença religiosa, mas talvez, muito mais a outras formas de comportamento social que extrapolam a esfera da religião. Mas do que a simples manifestação de antigas querelas entre diferentes confissões religiosas, o problema da intolerância extrapola até a transgressão de certos Direitos Humanos, que são conquistas legítimas de nossas sociedades, pelo menos em estados democráticos de direito como o Brasil.

Para mim, uma das grandes contradições disso tudo, reside no fato de que muitas dessas igrejas tenham ajudado a construir um estado laico, secularizado, propício à diversidade. Isso se deu num momento da história em que esses grupos eram minoria perseguida. Hoje, com status de religiões amplamente aceitas, invertem a situação, sendo que elas agora se tornaram promotoras da intolerância aos grupos diferentes.

O que quero dizer, é que para além das práticas cotidianas de intolerância religiosa que se dão nas relações entre as pessoas, a esfera pública passa a ser um local de enfrentamento entre concepções religiosa conservadoras e o pensamento laico e secularizado da Modernidade.
Tenho falado em Direitos Humanos de forma muito genérica, e agora gostaria de ser mais preciso. Primeiro, gostaria de nomear alguns deles:
- o direito à própria diversidade e pluralidade de expressões religiosas;
- o direito à diversidade da experiência da sexual;
- o direito à pluralidade étnica e racial;
- o direito à democratização da terra como habitação e meio de produção;
- entre outros, devidamente representados pelas respectivas políticas públicas de amparo a esses grupos.

Em segundo lugar, gostaria de perguntar: o que são esses Direitos Humanos?
- não são concessões, mas são produto de lutas levadas à cabo sempre por grupos minoritários de nossa sociedade;
- são os produtos de possibilidades inerentes a qualquer estado moderno, laico, cujas bases da governamentalidade estatal devem estar apartadas de concepções religiosas de um grupo em detrimento dos demais;
- são conquistas formalmente construídas e representadas pelas políticas públicas, legitimadas pelos meios democráticos dos estados modernos.

Finalizando, o que eu gostaria de trazer para a discussão é o fato de que hoje o problema da intolerância religiosa é muito mais amplo do que as históricas querelas entre as diferentes religiões. A intolerância religiosa dirigida contra as religiões afro-brasileiras (ou contra qualquer outro grupo religioso) deve ser encarada como um atentado contra direitos humanos fundamentais, que consideramos como conquistas.
Para os grupos considerados como vítimas históricas do preconceito religioso, acho que estamos num momento extremamente favorável, já que cada formulação daqueles direitos que citei como Direitos Humanos e sua tradução como políticas públicas vêm acompanhado com um amparo legal de proteção a esses grupos.

E com esse pensamento sobre o momento favorável convido a todos para que no próximo dia 05 de outubro a partir das 10 (dez) horas da manhã, possamos esta presente nas ÁGUAS DE SÃO PAULO, em massa para transformar o vale do Anhangabaú em um mar branco, de pessoas que lutam pela garantia dos seus direitos, pelo fim da Intolerância religiosa, pelo direito de professar sem qualquer tipo de repressão social sua crença.