quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Candomblé é o Povo Nagô






O Candomblé é um segmento religioso que pratica as tradições, ritos e crenças africanas, trazidos pelos antepassados, cujos rituais tem origens nas culturas: Nagô, Efan, Jeje, Ketu, Angola, entre outras nações que fazem parte das religiões afro-brasileiras.

A cultura religiosa africana foi desenvolvida no Brasil através do conhecimento de sacerdotes negros, que com parte de seu povo, foram capturados e escravizados, juntamente com seus Orisás, entre 1532 e 1888.

Com o "fim" da escravatura em 1888, o Candomblé se expandiu consideravelmente, e prosperou muito desde então. Hoje, cerca de 3 milhões de brasileiros declaram ser seguidores das religiões afro, mas acredito que o número seja bem maior, visto que, conforme o local e ocasião os seguidores dizem ser católicos, com medo da discriminação.

Vale lembrar que ao final de cada ano, mais precisamente na virada de 31 de dezembro para o 1º dia de janeiro toda extensão litorânea do Brasil, concentra um numero expressivo de pessoas que vão a praia pular 7 ondas, fazendo assim seus pedidos a Yemojá. Mas como disse anteriormente, acredito que as informações apresentadas pelo IBGE não representem a verdade, por vários motivos que não nos cabe transcorrermos neste texto. (os católicos, de acordo com o censo somam 64,6%, enquanto os que praticam as religiões afro-brasileiras aparecem com 2% da população brasileira).

Os negros escravos pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os Nagôs, os Ewe, os Fon, e os Bantos, que contribuíram não só com seus rituais religiosos, mas, também com a música, a dança, a alimentação, língua e outras manifestações culturais como o samba, capoeira, em fim a contribuição cultural negra é inestimável. O negro escravizado ao invés de se isolar, aprendeu a conviver entre grupos étnicos diferentes. A religião africana ao chegar ao Brasil sofreu uma transformação imposta pela nova fronteira e pela nova sociedade em transformação. O homem africano foi proibido de praticar seus ritos, no entanto nossos Orisás mais importantes chegaram até hoje com a proteção do sincretismo católico, contudo, o negro conseguiu preservar as crenças étnicas principalmente os ritos de iniciação, os cânticos em linguagens africanas, o culto aos antepassados entre outras tradições. Através do tempo os vários cultos foram se transformando até assumirem uma postura mais ou menos fiel a sua origem.



Povo Nagô.



Estudando os cultos africanos, podemos concluir que a maioria das religiões afro-brasileiras são frutos de uma forte nação chamada de nagô, também denominada Yorubá. Na década de 1930, quando realmente o candomblé ganhava espaço na Bahia, dois grandes líderes religiosos se destacam abrindo caminhos para religião e a comunidade negra em geral, são eles a Yalorisá Eugênia Ana dos Santos, a famosa Aninha de Xangô do Axé Opô Afonjá e o Bàbálàwo Martiniano Eliseu do Bonfim. Estes dois são atualmente os nomes mais lembrados na tradição oral dos terreiros da Bahia, eram reconhecidos como detentores legítimos do saber religioso; conheciam bem suas origens étnicas e culturais. Seres queridos, respeitados e temidos, e são lembrados com muita reverência nos terreiros de candomblé baianos.

A Yalorisá Eugênia dos Santos, Aninha, nascida em 13 de junho de 1869, era filha de Sérgio dos Santos chamado de aniió e Lucinha Maria da Conceição, chamada de Azambrió na linguagem grunce. Aninha dizia que sua seita era Nagô puro, filha de santo de Marcelina Obatossi, que por sua vez era "prima e filha de santo de Ia Nasso", uma das fundadoras da casa branca do engenho velho (o primeiro terreiro de candomblé da Bahia).

Depois de certos desentendimentos, Aninha sai do engenho velho com seu pessoal e vai para uma roça no Rio vermelho onde funcionava a roça de Joaquim Vieira de Xangô (Oba Sãiyá), um dos maiores conhecedores da religião africana da época. Logo Aninha funda o seu terreiro, a casa de Xangô Afonjá, com seu amigo e irmão de santo tio Joaquim, que morreria pouco depois. Aninha passou a ter a ajuda confiável de Martiniano e dos conhecimentos da velha Maria Bada; e com sua boa vontade, seu espírito batalhador e ajuda de todos que a acompanhavam construiu seu ilê axé, chamado Opô Afonjá que deu origem a outras grandes personalidades do candomblé: Maria Bibiana do espírito Santo, Senhora de Oxum Muiwá que recebeu em 1952, o título honorífico de Iyanassô pelo Aláàfin Òyó, da Nigéria; Marcelina da Silva, Oba Tossi; Ondina Valéria Pimentel, filha do Balé Xangô José Teodoro Pimentel; Isolina A. de Araújo; Mestre Didi; entre outros grandes, também, posso citar o meu amigo Albino Daniel de Paula (Obaraim) filho de santo de mãe Senhora, que foi o único homem a se tornar Babalorixá no Opô Afonjá, e segue firme na prática dos antigos fundamentos. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, era descendente direta da família Asìpá (axipá), e foi depois de mãe Aninha a mais importante Iyalorixá do Opô Afonjá.

Martiniano Eliseu do Bonfim foi um membro muito influente dos candomblés da Bahia, desde os fins do século XIX. Era filho de pais africanos, que haviam comprado sua própria liberdade; foi enviado pelo pai mais ou menos aos quatorze anos, a Lagos, Nigéria, e estudou as tradições religiosas africanas de seus antepassados. Voltou à Bahia, onde seus conhecimentos foram reconhecidos e o conduziu rapidamente a fama. Seu pai era da tribo egbá, foi trazido para o Brasil cerca de 1820 e liberto em 1942. O nome de sua mãe era Manjegbassa, era da nação Ijèsa, e tinha as marcas da nação no rosto (marcas tribais dos iorubas). Seus pais lhe deram ao nascer o nome de Ojé ladê.

Martiniano era conhecido e chamado, nos terreiros, inclusive de culto aos eguns, por seu nome nagô Ojé ladê. Ficou em lagos durante onze anos; para ele "África" era Lagos, eram os nagôs, os iorubas, sua nação. A ida à África era um importante elemento legitimador de prestigio e gerador de conhecimentos.

Martiniano Eliseu do Bonfim e Eugênia Ana dos Santos eram grandes amigos, e é sabido que o Bàbálàwo colaborou largamente com a Yalorisá, inclusive na estruturação do grupo dos Obás ou Ministros de Xangô, no Axé do Opô Afonjá; recebeu de Aninha o honroso título de Ajimudá, o que marcou o profundo respeito e consideração que a Iyalorixá tinha pelo sábio Bàbálàwo e vice-versa. Estes fatos mostram que muitos rituais praticados hoje em terreiros baianos seguem algumas raízes, também, da nação Ijèsa oriunda da Nigéria. Outro contemporâneo de Martiniano e Aninha foi Eduardo Ijèsa, que também se destacou como grande Bàbálàwo dos candomblés baianos; como se vê a nação Ijèsa tem muitos frutos espalhados por solo brasileiro.

No Rio Grande do Sul, o maior destaque da nação Ijèsa foi o Sr. Manoel Antônio Matias, Manoelzinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896. O Orixá de Manoelzinho trouxe a maioria das rezas cantadas nos dias de hoje nos batuques. O pai Xapanã "chegava ao mundo" e pegava o tambor para tocar e ensinar as rezas (cantigas de Orixás) para seus filhos de santo.

Era conhecido como mão pelada, pelo poder de seus Feitiços, viajava muito, pois adquiriu fama em todo território sulino. Dizem os antigos sacerdotes que Manoelzinho fazia um breve muito poderoso que em seguida endireitava a vida das pessoas que usavam. Até seu pai de santo, Paulino de Oxalá, temia o Xapanã Jubiteiú de Manoelzinho. Outra famosa Iyalorixá da Nação Ijèsa foi tia Antônia de Bará, filha do Pai Paulino de Oxalá Efan, porém, aprendeu todos os rituais de nação, no terreiro de Manoelzinho. Tia Antônia faleceu aos 96 anos de idade no dia primeiro de dezembro de mil novecentos e noventa e oito e deixam como herdeiras de seu axé as Yalorisás Maria Helena de Xangô e Lurdes de Ogum, suas filhas de ventre.

Toda a religião de origem africana tem o mesmo propósito em sua crença, em qualquer nação africana, o ritual em sua essência é quase o mesmo, usando as mesmas determinações, como o sacrifício de animais, toques de atabaques, cânticos na linguagem de origem, rigidez nos rituais de iniciação imutáveis em qualquer nação africana, fato que deveria contribuir mais para a aproximação dos terreiros em vez da rivalidade que se instalou nos cultos através dos tempos, acho até que todas as religiões deveriam se unir visando o bem comum da humanidade, visto que, há tantas desgraças, "temos recebido tantos recados" como aquele terrível acontecimento que abalou a Ásia no final de 2004, e ainda assim, não procuramos entender o que os seres superiores estão nos mostrando.

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