segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Entrevista com o Bàbálòrìsà Kandu Lemy - Pai Kandu Lemy por Samir Castro (Blog Èsù Akèsan - Umbanda e Candomblé)


Conte-nos brevemente sua trajetória religiosa.
R. Tudo teve início em 27 de julho de 1991, quando eu nasci para o Orisá diante dos fundamentos e doutrinas da nação Nagô-egbá, e desde então fui preparado por meu zelador para futuramente vir a tomar conta de uma egbé. Morei algum tempo dentro da comunidade onde tive a oportunidade de aprender mais de perto todos os ensinamentos de meu pai, e venho buscando manter as tradições de minha raiz até os dias de hoje.


Qual o Objetivo do Projeto Asé Odara?
R. O Objetivo inicial do projeto Asé Odara é promover a comunicação entre os povos de nossa comunidade religiosa, uma vez que percebi a carência do meio de comunicação, para que nossos povos possam divulgar o verdadeiro sentido de nossa religião. Mas o projeto vai muito mais além do que uma simples estação de Web Rádio. Este projeto tem como objetivo a constituição do Instituto de Comunicação Asé Odara. Escolhi este nome pelo real significado: Asé Odara = Força bonita, acreditando que a união de nossos povos independente de qual nação pertença, possa criar uma força única e pode mostrar a todos aqueles que não conhecem, a beleza de nossa religião.

Qual a sua visão sobre o Candomblé atual?
R. Vejo o Candomblé atual como uma caixa de tomate, onde é preciso selecionar muito bem, pois se não fizer isso, podemos enxergar os bons como podres também. Infelizmente a bactéria da hipocrisia, falta de caráter, a imoralidade e principalmente do uso da religião para a promoção financeira de alguns líderes, vem cada vez mais tomando conta de nossa comunidade, infelizmente. Por isso vejo o candomblé de hoje como essa caixa de tomates. Precisamos eliminar logo estes tomates podres para não contaminar os que ainda estão bons e os novos frutos que estão nascendo.


Qual a importância da Iniciação e do Bori?
R. Na linguagem correta o Bori vem da junção dos nomes Bó (Oferenda/comida) mais Ori (Cabeça). Daí vem a origem da palavra Bori (oferenda ou Comida á Cabeça). Isso nada mais é do que o ritual de preparar a cabeça para o Orisá. Assim como uma mulher, que quando está prestes a dar à luz, passa por algumas preparações, o Yawo também precisa se preparar para seu nascimento diante de seu Orisá. A Feitura é o primeiro passo e considero o mais importante de todos os outros que vêm na sequência, porque a feitura é o início, o nascimento de uma vida diante de nossa religião. É uma pena que hoje em dia as pessoas não estão mais vendo estes Yaos como crianças, que darão sequência em nossas raízes.


Como uma pessoa se torna um sacerdote dentro do Candomblé e quais suas obrigações?
R. Eu acredito que, quem é sacerdote já nasce com este Dom, não se torna. O que acontece é um período de preparação para que esta pessoa possa conhecer na prática, todas as suas obrigações e responsabilidades antes de colocá-las em prática. Tudo isso podemos ver claramente com as aparições de tantos zeladores. Dizer que é um Babálorisá ou Yalorisá e fácil, usar roupas de richelieu, salto alto, é fácil. Difícil é colocar o pé no chão, ter humildade e renunciar sua vida pessoal, em favor da vida dos outros. Difícil é esquecer os problemas pessoais e, por mais difícil que seja, ter que ouvir os problemas das pessoas que nos procuram para solucionar os seus problemas (deles). Por isso que digo que, quem é já nasce com a estrela. Não se pode produzir dom divino. No máximo podemos e aprimorá-los.


Nos dias atuais, é possível a união da Política com a Religiosidade?

R. Eu não gosto dessa mistura. Infelizmente vemos os políticos interessados em nossa religião somente uma vez a cada dois anos, somente nas épocas eleitorais estaduais e municipais, depois somem e dificilmente somos atendidos quando vamos a seus gabinetes depois de eleitos. Então prefiro que fique cada um em seu canto e façam seu papel com ética, moral e respeito. Estamos vivendo uma época de campanha política municipal, e o que mais se ve, são lobinhos vestindo a carapuça da falsidade e correndo atrás de votos usando nossa religião como ponto de apoio. Eu já deixo bem claro: não apoio nenhum desses que estão ai na disputa. Sei que não sou nenhum zelador de potência e renomado aos olhos dessas pessoas, mas diante de meu Orisá eu tenho ética e isso pra mim é a maior de todas as potências que um homem de asé pode ter. Nome não somos nós que fazemos, é o destino que nos dá como retribuição por toda caminhada que fazemos ao longo da vida.


Qual a sua visão sobre os cursos de sacerdócio?
R. Acredito que a maior escola para esse tipo de curso está em nossas casas de origem. Ainda aposto que os ensinamentos passados de pai para filho é a melhor maneira de se preparar um sacerdote e de se preservar as origens.


Deixe uma mensagem para o povo de Umbanda e Candomblé
R. Acho que com a realidade que estamos vivendo nos últimos tempos, só cabe um provérbio yoruba que diz assim:
“Asape fun were jo, on ati were okanná”
“Aquele que bate palmas para que o louco dance, é tão louco como ele mesmo.”


Créditos: http://esuakesan.blogspot.com.br

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